sábado, 30 de dezembro de 2006

Trilogia das Cores - bleu, blanc, rouge – Krzystof Kieslowski


A Liberdade é azul


A Igualdade é branca


A Fraternidade é vermelha

Talvez seja interessante começar explicando em que condições assisti aos três filmes. Em época das festas de final de ano no inverno berlinense. Em dvd, um a cada dia, ansiosamente. Neguei convites para uma cervejinha para ficar em casa debaixo das cobertas assistindo a essas histórias maravilhosas. Tudo em francês com legendas em alemão.

O meu preferido ainda é o azul, acho. Eu assistia ao filme e a cada plano me surpeendia mais e pensava: nossa, esse cara é um gênio! Meus amigos sempre me falaram do Kiéslowski venerando-o. Por uma questão qualquer infeliz, nunca tinha assistido a nenhum filme dele. Até resolver reverter esse quadro. Uma das felicidades maiores de estar em Belrim certamente é o acesso fácil a quase qualquer filme. Infelizmente, em DVD do Kiéslowski, somente os três mesmo. O resto, VHS. Chato. Mas os três me satisfizeram tanto que só posso estar grata.

Do azul, levo a Juliette Binochett que juntamente com a Gena Rowlands, a musa do John Cassavetes, disputam no meu ranking pessoal o prêmio de melhor atriz. Ela faz cara de nada e a cara de nada dela diz tanta coisa!... Ela é incrível. Mais incrível do que ela talvez os reflexos do lustre azul sobre ela. Marcou bastante. O melhor plano é um que deve ter passado pela maioria despercebido, mas é tão doce! Quando ela entra num café, pede um café e um sorvete e antes de começar a comer derrama um pouco do café quente no sorvete gelado. Me diz muita coisa essa metáfora. E me deu vontade de fazer o mesmo pedido. Nesse filme a questão da musica fica mais presente do que nos outros. E isso é um dos pontos fortes na trilogia e acredito que em todos os filmes do cara. Não sei. Pareceu-me que ele tem uma ligação bem forte com a música.

O branco também é legal e podem me chamar de louca, mas para mim o filme é sobre até que ponto uma paixão pode levar o ser humano. Mais do que sobre movimento imigratórios, ser ou não ser brocha, o amor destrói e reconstrói. Aquela mulher é uma idiota, mas muito real. Totalmente desse mundo.

No vermelho a atriz principal é de uma beleza tão simples e linda! E o velhinho é tão curioso. O estudante de direito não me marcou. Mas só por aquele jipe vermelho, eu casava. Adorei rever todos os personagens no final!

BABEL - dir.: Alexandre González Iñárritu

Ainda estou sob impacto da história e não é preciso muito esforço para as lágrimas voltarem a escorrer pela face. É difícil com tanta emoção fazer uma análise objetiva de Babel. Mas esse texto não se pretende objetivo tampouco uma análise.

O roteiro é composto de quatro histórias paralelas, uma em cada canto do mundo. Não é à toa o título, Babel: não só pela localização espacial mas pelo que move cada núcleo. No fundo o filme é sobre globalização, sobre o mundo estar cada vez menor e como cada um ou cada sociedade reage a isso. Os núcleos obviamente se encontram. Lembra Veneno da Madrugada (dir.: Ruy Guerra) em que há três tramas interligadas. Muita gente anda usando esse recurso de roteiro. Bacana, mas difícil de fazer; quando dá certo é lindo. Embora a junção das histórias em Babel seja meio forcada. Lembrou-me aquela brincadeira de que você conhece o mundo inteiro a partir de três pessoas. Cada uma das quatro histórias é completa e nao importa se a ligacao entre elas é perfeita. A compreensao dos problemas a que o filme se refere e consegue estabelecer, basta. Quem procura por lógica talvez nao fique satisfeito.

No Japão, a protagonista é uma menina que deve ter seus dezesseis anos. Ela é muda o que permite-lhe uma observação do mundo bem peculiar. Um detalhe que nos faz sentir mais pena dela ainda. Tem uma história difícil, viu a mãe se suicidar e daí degringolam seus problemas, parece. Sente-se sozinha. O tema desse „núcleo“ é a solidão. Sinto-me mal de chamar de núcleo, porque parece que estou falando de novela! Bem, o caso é que a menina está perdida. Ela quer dar de qualquer jeito, mais do que isso, quer um relacionamento. Tem sentimento mais universal e atual do que esse? O que todos procuram no meio desse caos de vida nao é isso, um porto seguro?

No Marrocos, um casal de turistas viaja pelo deserto. A mulher não gosta de estar ali. Não gosta de se deparar com a sujeira, a miséria que na verdade é o mundo. Não está acostumada a ver isso. Ela gosta de beber coca-light, jogar tênis, ir ao teatro. O marido parece preferir destrinchar um pouco o que há nesse mundo. No ônibus que leva eles e mais outros turistas do primeiro mundo para passear, ela leva um tiro. A esmo.

Quem deu o tiro foi uma criança dali. Que ganhou a arma do pai para matar cabras e resolveu brincar com o irmão na montanha.

Vemos de tudo ali: a falta de solidariedade e o individualismo do primeiro mundo e por outro lado a solidariedade do terceiro, quarto mundo, quinto. A paranóia do terrorismo, a ignorância.

No último núcleo, os filhos do casal e sua babá, imigrante mexicana que está tomando conta deles na ausência dos pais viajantes. Ela atravessa a fronteira para o México com eles para ir ao casamento do filho. Tão perto, parece durar menos do que duas horas de carro o trajeto guiado pelo motorista, Gael García Bernal. Que homem, gente! Curto e complicado o caminho. Na volta para casa, as crianças e a babá se vêem por paranóia das autoridades perdidos no deserto. Quase morrem, no fim a babá é deportada apesar de viver há mais de dez anos nos EUA!

VAMOS ABRIR AS PORTAS DESSE MUNDO!!! Dá vontade de criar esse movimento por aí. Um certo resquício ariano isso de fronteiras. A desigualdade é afinal culpa de alguém ou de todos? Ninguém soube responder.

Ficha técnica e tudo mais vocês podem googlar para saber.

Cena 1. Int./Quarto/ Escrivaninha

O objetivo deste espaco é falar de filmes. Dos que estao em cartaz, dos que nao estao, enfim, de todos que a mim chegam. Curtas e longas. Para deixar registrado o que pensei de cada um e lembrar a mim mesma das histórias. Textos bem pessoais. Um exercício divertido.