quarta-feira, 18 de julho de 2007

"Post-media aesthethicks"

compreensao do texto de Lev Manovich.

O texto de Lev Manovich propõe um novo modelo para pensar a arte e cultura contemporâneas partindo da crítica à clássica teoria da informação desenvolvida nos anos 20 e 30 (sender-message-receiver). Ele aponta direções para que um novo modelo que chama de „Post-media Aesthethicks“.

A primeira parte do texto resume a história da classificação da cultura e arte e explica por que o antigo modelo não dá conta de analisá-las após o surgimento de novas tecnologias e principalmente após o advento da digitalização.

O antigo conceito-chave da arte moderna era baseado na mídia, no meio. E ainda hoje nenhum novo conceito chegou para substituir essa classificação. A idéia de que a prática artística pode ser dividida pelos diferentes meios de que faz uso ainda vigora até hoje apesar de ser obviamente inadequada ao funcionamento da cultura atual. O autor resume a história da teoria da comunicação para deixar intelectualmente visível o por que da obsolescência do antigo paradigma.

O surgimento de performances, instalações, assemblages a partir dos anos 60 passou a ameaçar a tipologia secular baseada nas mídias, aplicada à pintura, escultura, desenho, em função da multiplicidade dessas novas formas que usam matérias aleatoriamente ou em combinação, algumas até mesmo rejeitam, desmaterializam o objeto artístico.

À antiga classificação da arte pela mídia que usavam foram sendo incorporadas novas mídias - fotografia, filme, vídeo e televisão – que ganharam novos departamentos em museus e instituições de arte. No caso do filme e da fotografia ainda fazia sentido pensá-los como mídias separadas que usavam materiais distintos – papel fotográfico e rolo de filme e encaixavam-se nos conceitos de artes espacial (como a pintura, escultura) e temporal (como a dança e a música). Entretanto, no caso do vídeo e da televisão ficou mais difícil a adaptação do conceito antigo porque ambos usam o mesmo material e envolvem as mesmas condições de recepção: o monitor. O que justificava tratá-los como mídias separadas nao era o material usado mas as condições sociológicas e econômicas, ou seja a recepção de um público diferente, o de massa e o que freqüenta museus, o número de cópias feitas e os mecanismos de distribuição.

A estética tradicional entra em conflito e surge no século XX a distinção entre arte e cultura de massa. Quando artistas começaram a usar tecnologias da cultura de massa para fazer arte, o sistema artístico ditou que eles usassem essas tecnologias (para reprodução em massa) com o propósito contrário, o de criar edições limitadas. Assim a sociologia e a economia tornaram-se critérios mais importantes para a avaliação da arte do que a estética.

A revolução digital dos anos 80, 90 foi outro fator que ameaçou a tradicional idéia de mídia. Nem a antiga tipologia baseada na mídia nem a mais recente, baseada na distribuição e método de exibição/recepção, davam conta da arte produzida a partir da digitalização. No mundo digital acabam as diferenças de material (entre fotografia e pintura por exemplo) e na estética foi estabelecido com a web o documento multimídia como forma de comunicação padrão. Com a tecnologia digital também ficou mais fácil fazer várias versões de um mesmo projeto (em 35mm, na web etc), o que quebra com o link de identidade do objeto artístico com seu meio, sua mídia. A web dissolveu também a diferença na distribuição de massa e para um público específico.

Apesar de estar claro que o antigo conceito nao dá conta de analisar a arte produzida na era contemporânea, continua-se a utiliza-lo por inércia e pela dificuldade de colocar um novo em prática. Novas categorias sao entao acrescentadas ao antigo modelo numa tentativa de atualizá-lo. Sao eles “net art”, “instalação interativa” entre outros. O problema é que as novas categorias continuam a distinguir a prática artística pelo material usado, somente substituíram-se os materiais. Toda arte feita na web é categorizada como net art só porque usam a tecnologia da web.

Depois de apontar por que é problemático continuarmos a ver a arte produzida atualmente a partir de um paradigma antigo, Manovich coloca requisitos que um novo sistema que dê conta da arte atual deve conter. Esse novo sistema deve, no entanto, ao mesmo tempo conseguir também analisar a arte produzida antes do surgimento das novas mídias, para que a nova que a antiga e a nova cultura sejam vistas como um contínuo e entendidas pela nova geração. Para exemplificar como isso é possível, o autor usa o pintor renascentista Giotto, o primeiro a inventar novas formas de organizar dados a partir de uma superfície bidimensional (uma tela); pode ser considerado um designer da informação.

As “Post-media Aesthethicks” precisam de categorias que descrevam como o objeto cultural organiza dados e estrutura a experiência do usuário desses dados. Também precisam adotar novos conceitos da era do computador tais como: interface, banda larga, informação, dado.

Manovich introduz o termo “Information Behavior” para descrever o jeito particular com que cada usuário (que pode ser lido como o espectador da obra de arte) acessa e processa a informação disponível na cultura. O termo ajuda a pensar sobre as dimensões da comunicação cultural. Nosso dia-a-dia consiste de atividades da informação: checar email, sms, organizar arquivos de computador. O jeito particular de cada um de organizar essas informações é chamado de “Information Behavior”, que forma parte essencial da identidade do indivíduo. A história da arte alem de ser sobre a invovacao estilística, a maneira de representação da realidade entre outras coisas é também a história de informações de interface desenvolvida por artistas e informações de comportamento do usuário (espectador). Os espectadores têm de se adaptar para navegar as novas estruturas da comunicação. Críticos e artistas já começaram a pensar na arte produzida no passado como estruturas de informação – que podem ser aplicadas a todo projeto cultural.

O autor volta num segundo momento do texto novamente à básica teoria da informação para explicar o que chama de “estética pós-mídia”. Logo que criada a teoria a atenção era voltada ao autor – suas intenções, biografia, psicologia, depois passou a ser a própria obra o mais importante – analisada como um sistema de códigos semióticos - e por último o espectador passou a ser alvo de atenção e análise. Para onde mais pode ir a critica cultural?

Do ponto de vista de Manovich, deve-se atualizar o modelo da informação, adicionando a ele dos elementos: software usado pelo emissor e software usado pelo receptor. O artista contemporâneo usa um determinado software para produzir sua obra. O software influencia, dá forma a tipos de obra sendo criadas. Como o uso do photoshop pelo artista Andréas Gursky, por exemplo. Da mesma forma um espectador contemporâneo freqüentemente usa um software para interagir com a obra. O software ajuda a dar forma a como um espectador pensa uma obra. Ao adicionar esses componentes – os softwares – ao modelo de comunicação, o papel ativo que a tecnologia desempenha na cultura da comunicação é enfatizado. Ferramentas de software sao o que permite ao artista fazer novas obras a partir de outras pré-existentes.

A conclusão do texto aponta para os perigos que a teoria “Post-media Aesthethicks” pode conter. É produtivo analisar a história da cultura a partir da história da informação de interfaces, do “information behavior” e do software, mas tal perspectiva pode nos fazer menos atentos a outros aspectos da cultura. O perigo mais óbvio é a estética privilegiar aspectos cognitivos da cultura sem providenciar caminho óbvio para pensar sobre o afeto.

Afetos vêm sendo negados pela teoria da cultura desde os anos 50, quando sob a influência da matemática sobre a teoria da comunicação, teóricos como Levi-Strauss e Barthes tratavam a comunicação cultural como uma maneira de codificar e decodificar mensagens. O legado matemático aplicado à teoria da comunicação continuou por décadas como paradigma geral da crítica cultural. Nao lidavam com o afeto. Nem Lacan (anos 60) nem a teoria fílmica (anos 80) chegaram a lidar com este aspecto.

A “Post-media aesthethicks” também nao lida diretamente com o afeto. No entanto é importante lembrar que quem lida com as tecnologias da informação lida com softwares e os diferentes softwares podem ser aplicados tanto para o trabalho quanto para a o lazer. Nao se pode negar que músicas um escritor ouve na mesma máquina que usa enquanto escreve. O computador contém correntes de dados usadas para mexer nossos corpos numa pista de dança bem como nossos cérebros. A partir dessa constatação é possível que a estética da informação aprenda a pensar os dados afetivamente.